Após as descrições de
Gilles Deleuze sobre as características do conceito (consistência,
história complexidade) chegou a hora de ver um conceito filosófico de perto e
perceber que realmente um conceito filosófico só é difícil enquanto ainda não
entendemos qual o problema está envolvido. O problema com que os conceitos de
Epicuro lidam é o problema que interessa a todos nós: como ser felizes? Todos
os nossos atos buscam a felicidade, mas não sabemos o que procurar, se devemos
acumular dinheiro para garantir a vida ou se devemos orientar nossas energias
em outra direção. Epicuro tem algumas palavras esclarecedoras a esse respeito,
observemo-las. O vídeo está dividido em três partes. Clique aqui para baixar um dos textos famosos de Epicuro ou aqui para ter acesso a uma coletânea de fragmentos.
Segue abaixo, alguns trechos selecionados.
Segue abaixo, alguns trechos selecionados.
Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros são naturais e
não necessários; outros nem naturais nem necessários, mas nascidos apenas de uma
vã opinião.
*
Aqueles desejos que não trazem dor se não são satisfeitos não são necessários;
o seu impulso pode ser facilmente posto de parte, quando é difícil obter a sua
satisfação ou parecem trazer consigo algum prejuízo.
*
A imediata desaparição de uma grande dor é o que produz insuperável alegria:
esta é a essência do bem, se o entendemos direito, e depois nos mantemos firmes
e não giramos em vão falando do bem.
*
E como o prazer é o primeiro e inato bem, é igualmente por este
motivo que não escolhemos qualquer prazer; antes, pomos de lado muitos prazeres
quando, como resultado deles, sofremos maiores pesares; e igualmente preferimos
muitas dores aos prazeres quando, depois de longamente havermos suportado as
dores, gozamos de prazeres maiores. Por conseguinte, cada um dos prazeres
possui por natureza um bem próprio, mas não deve escolher-se cada um deles; do
mesmo modo, cada dor é um mal, mas nem sempre se deve evitá-las. Convém, então,
valorizar todas as coisas de acordo com a medida e o critério dos benefícios e
dos prejuízos, pois que, segundo as ocasiões, o bem nos produz o mal e, em
troca, o mal, o bem.
*
Formula a seguinte interrogação a respeito de cada desejo: que me
sucederá se se cumpre o que quer o meu desejo? Que me acontecerá se não se
cumpre?
*
Então quem obedece à natureza e não às vãs opiniões, a si próprio se
basta em todos os casos. Com efeito, para o que é suficiente por natureza, toda
a aquisição é riqueza, mas, por comparação com o infinito dos desejos, até a
maior riqueza é pobreza.
*
E consideramos um grande bem o bastar-se a si próprio, não com o fim
de possuir sempre pouco, mas para nos contentarmos com pouco no caso em
que não possuamos muito, legitimamente persuadidos de que desfrutam da
abundância do modo mais agradável aqueles que menos necessidades têm, e que é
fácil tudo o que a natureza quer e difícil o que é vaidade.
*
Não deves corromper o bem presente com o desejo daquilo que não tens; antes, deves considerar também que aquilo que agora possuis se
encontrava no número dos teus desejos.
*
A vida do insensato é ingrata, encontra-se em constante agitação e
está sempre dirigida para o futuro.
*
Recordemos que o futuro não é nosso nem de todo não nosso, para não termos
de esperá-lo como se estivesse para chegar, nem nos desesperarmos como se em
absoluto não estivesse para vir.
Não são os convites e as festas contínuas, nem a posse de meninos ou
de mulheres, nem de peixes, nem de todas as outras coisas que pode
oferecer uma suntuosa mesa, que tornam agradável a vida, mas sim o sóbrio
raciocínio que procura as causas de toda a escolha e de toda a repulsa e põe de
lado as opiniões que motivam que a maior perturbação se apodere dos espíritos.
De todas estas coisas, o princípio e o maior bem é a prudência, da qual nascem
todas as outras virtudes; ela nos ensina que não é possível viver
agradavelmente sem sabedoria, beleza e justiça, nem possuir sabedoria, beleza e
justiça sem doçura. As virtudes encontram-se por sua natureza ligadas à vida
feliz, e a vida feliz é inseparável delas.
*
Não realizes na tua vida nada que, se for conhecido por teu próximo,
te possa acarretar temor.
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